sexta-feira, 24 de maio de 2013

Palavras por dizer...

Roubado do sono que apaziguava a minha mente, virei-me para a ténue luz que dançava com as sombras no meu quarto e em mim. Não sei o que escrever, não sei o que me dizer, o que só por si me preocupa, pois se sou feito de alguma coisa, é de palavras. E quão estranho tem sido o meu caminho. Palavras por dizer...sim, acho que é isso...Rejubilo um pouco porque percebi a razão da angústia que me domina. Não sei por onde começar... Quando cá dentro nascem letras que dão voz aos pensamentos, que por sua vez entopem as minhas veias e não me deixam pensar, tomo o comprimido do costume, ou seja, divago em perspectivas neste blog que tão bem me faz, ou se calhar tão mal me faz, o que é certo é que dá tréguas por uns instantes á melancólica prosa que é a minha vida.
Inúmeros foram os poetas que tentaram descrever, através das mais simbólicas maneiras, o efeito do arrepio que lentamente nos desce pela espinha até bater com força na mente. E quão insignificante sou eu para tentar escrever com sucesso tal fenómeno. Acontece que a mera tentativa dá paz ao suplício dos meus dedos.
Num café em Sta Apolónia, vi a certeza do que sentia, ser corrompida pela amarga dúvida que sempre está á espreita, á procura da oportunidade de me conquistar. E se ela não é de muitas palavras, direi apenas que foram as suficientes para me por a escrever. Ainda não consigo perceber de onde cresce tal dúvida...Será do seu sorriso? Da cumplicidade que vive nos nossos olhos? Ou do sentimento de que algo ficou por fazer...? A ausência de resposta martiriza o meu cérebro que freneticamente procura descanso. Dou por mim num capítulo que acaba em página branca, com a pena de lado ainda estonteada e molhada, á espera do último golpe que culmina na pontuação final. Não é justo eu entrar porta dentro de uma vida, e baralhar a organização que precisou de muitas lágrimas para se compor, mas confesso secretamente, que até a mim me finto numa vírgula perdida que dá razão á existência da dúvida. Parto e reparto e não fico com a melhor parte, apenas aquele sabor agri-doce que dá cor a um passado remoto, não longínquo o suficiente. Se calhar é porque ainda tenho uma ferida ao descoberto que pensava já ter cicatrizado. No entanto bebo as suas raras palavras, vivo aquele momento para o seu sorriso, e sobrevivo neste mundo que desconfio que tenta comunicar-me em dialectos que desconheço. Penso para mim que o que ambiciono é encontrá-la... Não a pessoa em questão, mas a silhueta da pessoa que no futuro me fará feliz. Se calhar é isso mesmo. É um beijo no canto do lábio que liberta as emoções que á muito fizeram o aquecimento e estão desejosas de jogar com o meu corpo. E assim sou traído pelos movimentos que cegamente faço, por ordem do meu cérebro que já se perdeu nas léguas percorridas pela minha alma. E isso não é justo. Pois tive a minha oportunidade e culpo a escolha a do meu coração que tão mal joga xadrez que deu check-mate a sí mesmo na primeira jogada...antes tivesse jogado a minha racionalidade, que ainda hoje estaria sobre o teu check...
Quero que saibas que te quero feliz. Quero que saibas que na minha sóbria consciência nunca tentarei corromper o equilíbrio que tão honrosamente ganhaste. Quero que saibas que espero ver todos os dias, o teu sorriso que traz consigo mais alguns raios de sol a esta realidade inundada de cinzento. Da minha parte, julgo ter-me esclarecido, e espero ter posto termo a toda esta espiral de confusão que labirinta dentro de mim. Não me resta mais do que agradecer-te por todas as novas emoções que me despertaste, e pedir desculpa pelas vezes no passado e no futuro que correspondi ao teu chamamento com a indecisão dos tolos. Sei que perdi um barco que partiu para um novo mundo, e já me arrependo de não estar contigo a partilhar as aventuras que te definem. Quem sabe um dia estaremos num cais e ao sabor do vento e de um copo vinho, possamos trocar as histórias que tatuaram o nosso ser. Para já, meto esta manifestação de carinho numa garrafa que lanço ao teu mar, na esperança de um dia a abrires e vislumbrares  algum sentido nas tortas linhas que escrevo. Um beijo eterno.

Sailing in the ink that flows through our history.

1 comentário:

Txu disse...

Dou por mim em frente às teclas que tanto anseiam que lhes toque para escrever que estou bem e que passou, mas a verdade é que os sentimentos que surgem são indistintos e não consigo escrever. Escrevo, apago, escrevo, apago e finalmente apercebo-me que é isso mesmo, uma hesitação profunda que permaneceu nas entranhas do meu ser em relação àquele que outrora me fez amar. As minhas dúvidas desvaneceram-se mas os meus lábios continuam cerrados à espera de que um dia, não me magoem com as próprias palavras que sempre tiveram vontade de dizer. Os capítulos nunca acabam em páginas brancas, são mantidos em espera, às vezes tempo demais.. O que acontece é que as deixamos passar ao lado porque não as vemos, e muitas vezes perdemos uma oportunidade de experienciar algo mágico que as preenche, sem nos apercebermos. Era forte, segura, decidida, e agora? Agora não sou nada. Dou por mim perdida em sonhos com gana de te encontrar, mas, na realidade só fazem arder mais a ferida que deixaste aberta. Tornei-me neste ser estranho que não consigo reconhecer por entre os murmúrios de uma nova paixão, sou fraca e deixo que tudo à minha volta dite o rumo da minha existência. Os lábios, esses continuam cerrados para que não magoem aqueles que me amam e que me querem, mas aqui tens, as palavras por que tanto mendigaste, escondidas de tudo e de todos mas com o mesmo sentimento que teriam em qualquer formato... A garrafa, essa já a encontrei, ficará selada para sempre para que não fujam aqueles momentos que com tanto carinho recordo. O amor não correspondido que ainda palpita, fica enterrado num canto no qual nem eu própria me atrevo a ir. Agora vou-me para nunca mais voltar, em paz e com tudo dito. "True goodbyes are the ones never said or explained."