quinta-feira, 27 de novembro de 2008

Miau...

"Nunca pude tirar a minha máscara, todos os dias o mesmo, passam pessoas, passam carros ,o sol brilha da mesma maneira sempre: Nada muda. Dizem que nesta vida nada é eterno, mas a monotonia a que estou sujeito todos os dias revela uma realidade diferente. As mesmas cadeiras, as mesmas cervejas, por mais que tente, não consigo fugir a uma continuidade igual no meu dia-a-dia. Mas por fim, acho algo rompeu todos os sentimentos cronológicos diários. Ela apareceu com aquele sorriso suave, deu-me os ""bons dias"" e senti que deitou abaixo todo equilibrio constante e previsível matinal. Desde que a vi que senti que havia algo diferente. Embora eu saiba que não dá, não posso deixar de me viciar nesse sentimento, como a droga mais gulosa que existe. Timidamente trocamos olhares por entre os cabelos. Por um momento parece que o mundo é meu, mas rapidamente afastamos os olhares, e pelo menos eu, finjo que nada aconteceu. Ela continua sentada umas mesas á minha frente, e eu continuo com os meus cigarros e com a minha cerveja em cima da mesa.
Chegam mais pessoas, e o café enche. Por entre as pessoas, procuro o azul com ela me fitava. Levanta-se, e assim que o faz, a minha cadeira estremece. Eu sei que nada simboliza, o facto de apenas olhar para ela, mas neste momento, é apenas isso que me interessa. Não quero que ela se vá embora. Queria ficar aqui anos a olhar para ela. Basta-me um olhar correspondido para me despertar um sorriso, e vejo nos seus lábios, que também ela exterioriza alguma felicidade.
Mas não interessa... nada disto interessa, nada disto vai corresponder, nada disto se vai concretizar, e por isso, prefiro não pensar sobre o futuro. Mas por mais forte que seja essa sentimento, não consigo evitar pensar como seria daqui a alguns anos, se estivesse com ela. Não consigo deixar de pensar como seriamos nós sentados num banco de jardim, com cabelos brancos, a relembrarmo-nos juntos como tinha sido aquela tarde, naquele café. Como eu sonho que nesse momento ela me revelasse que naquele dia, ela se sentia como eu. Como também se encolhia quando olhava para mim com receio de não ser correspondida, e seria aí que lhe diria que ela foi sempre correspondida.
Mas tenho de despertar. Os meu colegas chegam ao pé de mim com o almoço nas mãos. Descasco uma castanha e levo-a á boca. Enquanto saboreio este fruto seco, desejo sentir outro sabor. Levanto a cabeça e volto a olhar para ela. Ela nem repara, continua alegremente a falar e a rir. Vou-me despedir. Vou passar por ela e despedir-me, e pensar ou sonhar que ainda há-de vir o dia. Tudo vale apena quando a alma não é pequena..."



A pedido de alguns publiquei este texto...a pedido de alguns, sobretudo daquela parte dentro de mim que se tenta revelar todos os dias...