quarta-feira, 22 de fevereiro de 2012

Uma perspectiva de raiva

Ui, á anos que não aparecia por aqui, á demasiadas luas que não me exteriorizava para um publico inexistente. Talvez porque apaguei uma parte de mim, e reescrevi-me a caneta. Não sei...Mas já que noutras alturas consegui apaziguar-me com o som do teclado a vibrar, talvez dê descanso á minha caneta, que tão confusa anda de mãos dadas com os meus sentimentos. Depois de pessoas e experiencias, já consigo escrever o que sinto sem ter de pensar nos caracteres que primo com a força da minha alma, com a cegueira do meu espirito, e pinto novas prosas versejando o que sinto.
E é por isso que aqui estou, para mais uma vez escoar sentimentos em forma de letras. Sei que voces (publico imaginário) nada sabem do que me aconteceu, mas o meu percurso foi tão enorme quanto o meu silencio, e revolucionou todas as minhas perspectivas (sim, mesmo as perspectivas nas maiores cegueiras). Aprendi a ser um ser humano. É engraçado olhar para trás e ver o que sentia, e perceber a imaturidade representada em fases adolescentes em que o mundo parece cair sobre mim, onde pior que eu não existe. Pois bem, já me vejo com outros olhos.
Cresci, aprendi, ensinei, e percebi. Conheci alguem, alguem que me mudou, que me tornou provavelmente, no que sou hoje, ou seja, apaixonei-me!Á séria!E esse capitulo durou grande parte dos anos ausentes deste blog. Não vou entrar em grande detalhe, pois se não o fiz, não vai ser agora que o vou fazer. Mas vim hoje aqui para descarregar um grande desconforto, alguma raiva até, completamente irracional mas intrínseca que se manifesta na minha cabeça. Esse alguem com quem estive, em muito se assemelhava a mim, inclusive nesta tresloucada paixão que é escrever e criar. E muitas palavras eram cúmplices da nossa paixão, muitas palavras foram proferidas e escritas em nomes inventados invocados pelo nosso amor. E é por isso que sempre as agarrei e aninhei no meu seio, como se fossem parte de mim. Dedicava-lhes tanto tempo e amor como se fossem por elas que estava apaixonado.
Infelizmente o nosso relacionamento não teve um final feliz, e caiu abraçado à ultima folha castanha de Outono. O problema é que essa pessoa ensinou-me a amar, a perceber realmente o significado de passar o resto da minha vida com alguém, e por isso estou-lhe eternamente grato. Sei que não a amei como devia, sei que não lhe atribui a real importancia que ela tinha, e só me apercebi disso durante o tempo em que o meu coração emanava a mesma temperatura que congelava a água nas minhas janelas, que imobilizava as minhas arvores despidas. E seguimos em frente, em caminhos paralelos mas não sobrepostos. E foi duro... é duro... mas ultrapassável, como qualquer relacionamento importante. Mais tarde vim a saber que ela conseguiu percorrer o seu caminho bem melhor que eu, e até conseguiu encontrar alguém que lhe despertava interesse. Obviamente que não foram as melhores noticias do mundo, e fiquei triste, sabendo que na realidade e sendo verdadeiro para comigo mesmo, apenas não estava à espera que ela conseguisse encontrar alguém antes de mim. Sempre pensei que seria eu a encontrar alguém, mas o peso desse relacionamento passado atrasou a minha passagem nestas folhas do destino, e consequentemente cheguei atrasado ao fim do capitulo.
Mas aguas passadas não movem moinhos, e novo rumo ergui como as velas de uma nau, prestes a descobrir o caminho marítimo para a Índia. Dei um novo sentido á minha vida, e atrevi-me a tentar descobrir aquela parte de nós que não conhecemos, aquele espirito e vontade que não julgavamos ter. A nossa poética cumplicidade passou a existir apenas nas palavras que eram embebidas por um estranho licor de amizade ao qual me fez especie ao inicio. Mas já alguem dizia "Primeiro estranhas, depois entranhas" e assim se sucedeu.
Então mas porque é que esta prosa vem acompanhada de uma perspectiva de raiva? Simples, desconhecido ao vosso saber, mas simples. Exactamente porque o nosso grande elo de ligação ser a escrita é que tomo todas as palavras proferidas na nossa direcção como uma especie de propriedade privada, algo nosso (meu, dela, mas sobretudo nosso) que existem como um poema arcaico que me lembra um longo capitulo da minha vida. Digamos que é demasiado pessoal para mim para ser partilhado. Não porque me embaraça perante outros mas porque o quero tomar como garantido na minha posse. Porque são palavras que me marcam, que ainda me provocam arrepios, que me humedecem os olhos, que põem o meu coração em brasa...secretamente. E naturalmente que esses pequenos rasgos de génio em tons de branco e preto foram publicados. Quer no nosso espaço comum, quer no nosso espaço pessoal. Acontece que no seu espaço pessoal foi publicado algo que considerava muito meu (nosso), talvez das expressoes que arriscaria dizer que nunca na minha vida as diria a ninguem sem ser a ela, sabendo dos direitos de autor que ela possui pois foi ela a autora de tal frase. Enfim, nunca escrevi nem nunca disse a tal frase a ninguem e dentro da racionalidade que me define, coloquei-me na posição egoista de que sempre que ela dissesse tal frase, seria algo dedicado a mim, dedicado á recordação de algo que tivemos, tal qual uma fotografia.
Lembram-se que ela se tinha interessado por alguem? Pois... essa pessoa encarnou a minha personagem, tornou-se num reflexo de algo nosso (meu), que me tirou o chão dos pés...Como foste capaz...? Como foste capaz de retirar uma essencia que nao era a tua, como foste capaz de servir um copo de um licor que me é familiar? Como é que se toma o lugar de alguem? Houve muitas coisas que aprendi e uma delas é que ninguem toma o lugar de ninguem. Tal como cada ser humano é diferente, também é o seu lugar na vida de alguem, não existem substitutos, não há alterações ao intervalo, e cada peça é representada pelo actor que lhe dá vida. Aaaarrrgh!!Que misto de raiva tão revoltante que sinto dentro de mim!!!!Raiva para com ele e raiva para comigo!!!!!Não sou desprovido de olhos e emoções, não sou metal que insignificante-mente olha para sentimentos, sou feito de carne e osso e por vezes (ainda que erradamente...) não consigo conter o que sinto...Desculpa...desculpa...a minha voz ergue-se mais alta que o ciume que sinto, e que vergonha é sentir ciume...que vergonha...
A vodka que bebo ajuda a liquefazer o que sinto...deixem-me em paz, deixem-me puxar de um cigarro para ver desvanecer a raiva e o ciume que tao egoísta me fazem, no fumo que expiro. Já passou...(já passou...suspiro a mim mesmo). Só quero adormecer, so quero ficar inconsciente para acordar fresco e me rir ao recordar o que escrevi... E por favor cérebro, não me deixes adormecer com esta tinta no meu sangue.

Always yours S.